Entre os destaques da pesquisa do GLOBO para descobrir qual é a torcida que canta mais alto no Brasil, chamou a atenção a posição do Corinthians, seja nas categorias isoladas ou no resultado geral final. Conhecidos como parte da "Fiel Torcida" pelo ideal de cantar e apoiar o time para as vitórias ao longo dos 90 minutos de partida, os corintianos não conseguiram números muito atrativos. Mas a explicação para isso pode estar no posicionamento de sua principal organizada e do aparelho utilizado para a pesquisa.

Ao todo, 44.399 pessoas lotaram a Neo Química Arena na vitória do Corinthians por 5 a 2 contra o Athletico-PR, no dia 17 de outubro, pela 30ª rodada do Brasileirão. Esta foi a partida escolhida aleatoriamente pelo GLOBO para fazer a medição da torcida do Timão. A posição da reportagem foi em frente ao setor Norte, onde se posiciona a Gaviões da Fiel, principal organizada do clube paulista.

O que pode fazer diferença mesmo é se, no ponto em que os cantos foram medidos, tinha reflexão (da acústica) ou não, e, consequentemente, se o aparelho estava captando a medição direta — explica Eduardo Bauzer, professor da Escola de Engenharia da UFMG e especialista em acústica e vibrações mecânicas.

Um fator que pode ter sido preponderante é a geometria do estádio. A Gaviões fica em um setor próximo ao campo, mas em que não há arquibancada "superior". Neste setor único, e aberto, a medição não teve a vantagem que as torcidas do Flamengo e do Fluminense, as melhores colocadas, tiveram. Como, no Maracanã, as torcidas organizadas ficam no setor superior, com o decibelímetro posicionado à frente delas, a pressão sonora captada veio de quem estava à frente e atrás do aparelho. No caso do Timão, apenas do "bando de loucos" que estava atrás da reportagem.

A configuração das torcidas nos dois estádios apresenta diferenças significativas que influenciam diretamente a propagação e o impacto da pressão sonora no gramado. No caso da torcida organizada do Flamengo, a maior quantidade de pessoas ao redor pode gerar uma maior pressão sonora local. Entretanto, essa pressão sonora enfrenta desafios para alcançar o campo devido à distância da arquibancada ao gramado e ao ângulo pouco inclinado das arquibancadas do Maracanã. A geometria do estádio, somada à distância de mais de 25 metros entre a linha de fundo e a arquibancada mais afastada, reduz a eficiência do som em atingir o gramado de maneira significativa — conta o arquiteto especializado em estádios Fabricio Chicca. — Por outro lado, a torcida organizada do Corinthians, embora conte com menos pessoas devido à ausência de uma arquibancada superior, está posicionada muito mais próxima ao campo. Essa proximidade facilita consideravelmente a chegada da pressão sonora ao gramado. As distâncias ao gramado e possivelmente o ângulo da arquibancada atrás do gol do Corinthians são fatores importantes em favor da Arena Neo Química.

O momento de maior barulho da torcida na Neo Química Arena ao longo da partida foi às 21h24, quando Memphis Depay marcou, em linda cobrança de falta, o gol de desempate para o Corinthians na partida e o seu primeiro pelo clube paulista. Foram 115,4 decibéis

Como o Corinthians tem uma torcida organizada localizada muito próxima ao campo, pode ser que, apesar de não ter obtido bons resultados na medição na arquibancada, a reflexão do som no campo seja, de fato, uma das mais altas do país.

— O som produzido por uma torcida em um estádio de futebol raramente chega ao campo com a mesma intensidade. Diversos fatores influenciam a propagação sonora, indo muito além da distância, que é o aspecto mais evidente como foi mencionado. A geometria do estádio desempenha um papel fundamental — relata Chicca.